DEIXARAM CRISTO DE LADO
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A Cruz colocada de lado na missa papal do dia 29/06/2025 |
Um dos sinais mais sensíveis da “micro reforma litúrgica” operada no pontificado de Bento XVI, entre os anos de 2007 a 2013, que era a colocação do crucifixo no centro dos altares, nas missas papais e nas missas celebradas por representantes da Cúria Romana nas basílicas e igrejas de Roma, foi superado e agora jaz sob o mandato do atual mestre de cerimônias pontifícias, dom Ravelli.
No período inicial da reforma litúrgica durante/após o Concílio Vaticano II, não houve qualquer alteração do posicionamento do crucifixo. Este sempre ficou no centro do altar, embora o papa já estivesse “coram populo”, isto é, de frente ao povo. O crucifixo ficava ao centro do altar, mas em tamanho reduzido, de modo a não interferir na visualização do sacerdote com a assembleia e para que essa pudesse ver o que ocorria sobre o altar.
Deixando de lado essas considerações, na década de 1970, quando o mestre de cerimônias pontifícias era o monsenhor Virgilio Noè (que viria a ser cardeal e arcipreste da basílica de São Pedro), e já sob a primeira versão da Instrução Geral sobre o Missal Romano (1969/1970) o crucifixo já sob a forma de cruz processional, era posto de lado, em posição diagonal, voltado para o celebrante.
O então cardeal Ratzinger já havia escrito no seu famoso livro Introdução ao Espírito da Liturgia (2000) acerca da colocação do crucifixo sobre o altar e voltado para o celebrante, a fim de acentuar aquilo que o novo rito da missa obscureceu: o sentido de sacrifício incruento. Assim, em outubro de 2007, com a nomeação do presbítero genovês Guido Marini, que estava mais alinhado “à sensibilidade litúrgica” de Bento XVI, o crucifixo foi posto ao centro do altar e de lá não sairia até o ano de 2022.
Contudo, no primeiro consistório para a criação de cardeais realizado em fevereiro de 2014, a cruz teve o seu tamanho reduzido. Assim, apesar de permanecer no centro do altar, não tinha mais tanta evidência frente aos castiçais o que, esteticamente, pareceu desconcertante e que para um observador mais atento, não passou despercebida a mensagem.
De qualquer forma, durante quase a totalidade do pontificado do papa Francisco a cruz esteve sempre ao centro do altar, seja nas celebrações eucarísticas, nas vésperas e nos demais atos litúrgicos. Foi somente em 2022 que começaram os “experimentos” sobre a sua posição e colocação; isso, já sob a batuta do então monsenhor Ravelli, que tinha sido nomeado o novo mestre de cerimônias em outubro de 2021.
Um exemplo destes experimentos ocorreu na abertura do Jubileu na missa de Natal de 2024, quando a cruz do altar era a mesma cruz processional, que ficou ao lado voltada para a assembleia. Nesta época, o papa já não celebrava mais a missa publicamente, então, cabia a um bispo oferecer o santo sacrifício.
Sob o papa Leão XIV já foi possível perceber uma alternância dos experimentos com a colocação do crucifixo. Isto se deve ao fato da ausência de uma postura litúrgica oficial por parte do Escritório de Celebrações Litúrgicas Pontifícias ou apenas para se dizer que a norma litúrgica da Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR) permite tais posicionamentos litúrgicos, desde que haja a presença do crucifixo.
Se por um lado vemos esta alternância, também vemos que o papa sempre sai à procura da atual posição do crucifixo, como se nota no vídeo da missa do dia de Pentecostes (08/06/2025) em que foi alertado pelo mestre de cerimônias da sua localização para que pudesse incensá-la.
Uma semana depois, na solenidade da Santíssima Trindade, a cruz voltaria ao centro do altar, embora na versão de candelabros feitos imediatamente durante o período conciliar (uma versão feia, sem beleza alguma, e de tamanho reduzido) que retrata bem o período de experimentação e desolação que a Igreja passou nos conturbados e imediatos anos do pós-Concílio.
Por fim, parece-me, agora, que a posição da cruz ficará de fato ao lado esquerdo do papa e ao lado direito de quem vê o altar de frente, tal qual ficou durante uma boa parte do pontificado de João Paulo II (quando o então mestre de Cerimônias, Dom John Magee a pôs) e no início do pontificado de Bento XVI, sob Dom Piero Marini.
Vejamos o que o tempo dirá.
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