Eles têm medo!

Cardeal Arthur Roche, prefeito do Dicastério para o Culto Divino

Li no site espanhol InfoVaticana que após consulta do bispo de Chartres, Dom Philippe Maurice Marie Joseph Christory, da Comunidade Emmanuel, o Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos presidido pelo cardeal inglês, Dom Arthur Roche, escreveu uma carta reafirmando que é competência de cada bispo diocesano permitir a celebração da missa antiga em sua diocese, e que a "autorização" de cada sacerdote só vale na jurisdição do bispo que a concedeu.

A questão se cinge devido a Peregrinação anual “Notre-Dame de Chrétienté”, que percorre o trecho entres as cidades de Paris até Chartres, que já está na sua 43ª edição. Em dita peregrinação, se reúnem jovens franceses e de outros países, que caminham entre estas duas cidades com orações, cânticos, confissões e missas, sendo estes dois sacramentos celebrados sob a liturgia antiga. Neste ano, a peregrinação ocorrerá nos dias 7 a 9 de junho de 2025. 

Um dos primeiros sites a noticiar uma suposta atenção especial do Vaticano a esta peregrinação juvenil tradicional foi o La Croix, em 04 de dezembro de 2024, que intitulou sua matéria como “Les messes en latin du pèlerinage de Chartres sous surveillance du Vatican”, algo como que “As missas em latim da peregrinação de Chartres sob vigilância do Vaticano”. 

De se notar que esta tradicional peregrinação iniciou em 1983, antes até mesmo do Motu Proprio Ecclesia Dei de São João Paulo II, que criou o embrião da Fraternidade Sacerdotal São Pedro, após a cisão ocorrida no seio da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, com as sagrações episcopais ocorridas em 30 de junho de 1988 pelo arcebispo Marcel Lefebvre.  

Entretanto, cabe mencionar que o então bispo de Chartres, dom Michel Kuehn, quando do início da peregrinação na década de 1980, recusou abrir a catedral para a celebração da missa de encerramento, tendo em vista sua oposição à missa antiga. Assim, a celebração da missa ocorria do lado de fora da catedral de Chartres. Já em 1988, a celebração da missa de encerramento ocorrerá dentro da catedral, graças ao Motu Proprio Ecclesia Dei

Resta notar ainda que o fato desta peregrinação ocorrer com as celebrações das liturgias antigas antes mesmo de qualquer ato papal autorizativo sobre o rito utilizado, caracteriza-se mais um argumento a favor que não houve ab-rogação do missal de 1962, conforme dito por Bento XVI (Summorum Pontificum, em 07 de julho de 2007). 

A grande questão é que a Conferência Episcopal Francesa emitiu carta para todos os bispos franceses dizendo que, conforme o Motu Proprio Traditionis Custodes, cada bispo deverá permitir a celebração desta missa tradicional em território de sua jurisdição. Isto é, por cada cidade onde se passar o trajeto da caminhada-peregrinação, deverá haver autorização específica aos sacerdotes para celebração da missa antiga, inclusive para os sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (que são de uso exclusivo do rito antigo). 

Aguardemos para saber onde serão celebradas as missas de abertura e encerramento da 43ª Peregrinação Paris-Chartres; se abrirão as catedrais para os, aproximadamente, 20 mil peregrinos jovens ou se eles terão as missas sob a catedral do céu, isto é, ao ar livre. 

Por que tanto medo desta liturgia e de que sejam os jovens aqueles mais resistentes às novidades destes bispos não tão jovens assim?

Eles têm medo porque não querem admitir que seus projetos de revolução só atingiram suas próprias gerações e que, quanto mais o tempo passa, mais toda aquela agitação da segunda metade do século XX, no pós Concílio Vaticano II, vai sendo esquecida e o próprio Concílio Vaticano II vai se tornando somente mais um dentre todos os outros concílios da história da Igreja.

Não se trata de “etarismo” ou da velha posição “nós e eles”, mas simplesmente de opinião de quem não entende como pode haver tanta incoerência entre posicionamentos papais sucessivos sobre o mesmo fato: a liturgia antiga depois da reforma paulina de 1970.

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Para quem quiser saber, conhecer mais ou só tenha curiosidade sobre a peregrinação até Chartres, clique aqui.

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